Após uma renovação do blog, deixo-vos um poema (escrito faz já um ano).
Acordar...
Um raio de sol na cara, o som do despertador,
Tudo indica que são horas de acordar
E o meu corpo, cansado e com dor,
Teima em não se movimentar!
Parece ganhar vontade própria, sem lutar,
E começa a fazer-me sentir como um corpo inanimado,
Um corpo que vida alguma parece habitar.
A visão e o tacto são realidades de um mundo afastado.
Começo a tentar mexer as pálpebras, devagar,
E parece que este corpo que julgava possuir
Deixou de me responder e de actuar.
Parece não me ouvir!
Sinto, se é que ainda sei sentir,
Que o sol me queima o corpo e não a mim
E que o único estímulo que parece surgir
É o calor da manhã que hoje me encontrou assim.
Não sabia o que fazer, o que pensar.
Sabia apenas que estava ainda consciente
E que, apesar me sentir a desmoronar,
A minha mente era ainda realidade presente.
Se um filósofo me visse agora, neste estado,
Diria, talvez Descartes, que a alma é uma individualidade,
Que o corpo seria desta separado
E que estava a passar por uma perda de identidade.
Quem sabe não concorde com tal teoria.
Afinal já nem sabia quem poderia ser,
Fazia-se já dia
E eu ali, gélido, sem sequer poder escrever!
Pudera eu escrever como me sinto.
Talvez não chegassem as folhas nem os pergaminhos,
Que este meu pensar, agora distinto,
Parece ter escolhido outros caminhos.
Partiu, levou com ele o corpo que me levava pela mão,
O corpo que me fazia sentir alguém, um ser,
Aquele corpo que parecia conhecer de antemão
E acabei por perder!
Paro agora. Senti um espasmo no braço direito.
É um começo, estou a voltar a mim.
Pareço ouvir bater um coração, uma dor no peito,
E tudo parece iniciar-se assim.
As pernas já se mexem. Não sou eu a ordenar!
O corpo ainda me foge do controlo, da vontade,
E parece começar a comandar
Músculos e movimentos. Sinto ansiedade.
Sinto finalmente uma reacção,
Se física, química ou biológica não sei!
É como que uma força, um empurrão
Que me projecta sem regra ou lei...
Lá consigo abrir os olhos. Um clarão imenso!
Começo a sentir reacções estranhas, desconhecidas,
Não sei se agora me movimento ou apenas penso.
Não sei se morri ou se apenas viajei sem tempo ou lugar.
Por momentos pensei que tinha perdido o meu “eu” nesta viagem
E que tinha que o encontrar.
Busquei, insisti, procurei novamente…
Sentia uma necessidade de me construir
Uma vontade de renovar corpo e mente,
Uma força para não desistir!
Sentia o corpo ainda fraco, mal conseguia andar.
Não hesitei mais e levantei-me, por fim.
Saí então em busca do que faltava recuperar:
Uma nova identidade para mim!